10.14.2011

Gerontodesign: O estado de arte do Design Gerontológico . 2006

A motivação para participar neste Congresso Internacional sobre o Estado de Arte em Design, realizado pelos alunos da ESTAL, deve-se:

1º - Ao número e proporção de pessoas idosas com idade igual ou superior a 60 anos estarem a crescer de forma contínua e acelerada em todos os países;

2º - Aos designers, escolas de design e fabricantes ainda não estarem sensibilizados para o aumento significativo de gerontes. Por conseguinte, nem estarem preocupados com uma ergologia concebida para pessoas idosas, nem para desenhar e produzir bens “acima e abaixo da linha” de fabrico.

3º - Não existir uma abordagem pluridisciplinar, no campo das ciências humanas, sociais e tecnológicas, que envolva as áreas de economia, ergonomia, psicologia, linguística, sociologia, antropologia, direito, engenharia, informática, arquitectura e design para analisar o universo dos artefactos criados para o geronte.

Perante estas premissas, considerámos pertinente e primordial que:
  • Se dê especial atenção a este público-alvo: os Idosos
  • No domínio do design como campo da praxis humana, o gerontodesign, ou design gerontológico, seja uma especialidade do design
  • A especialidade gerontodesign, ou design gerontológico, sirva de legitimação para um design ergonómico de funcionalidade específica para os senescentes
  • Gerontodesign possa ser a denominação do design de funcionalidade política das marcas brancas
  • Gerontodesign, como produtor de realidades, tenha a capacidade de fazer de interface entre o in-formar, o de-formar e des-figurar que encarna o material – a matéria – e a não matéria – o espírito – que conduz à supremacia da tridimensionalidade: matéria / forma / função da cultura de materialização / desmaterialização.

O envelhecimento da população é um fenómeno preocupante ao longo dos tempos e em todos os países, principalmente nos mais industrializados. Desde o século XVIII que a taxa de envelhecimento não parou de aumentar. Segundo os estudos fornecidos pelo INE em 2002 para Portugal, o envelhecimento da população, tanto em homens como em mulheres, tem vindo a aumentar. Em 1970 era de 27,3%, em 1991 de 38%, em 2010 será de 49,3%. Prevê-se que em 2050 a população com mais de 60 anos ultrapasse os três milhões. Actualmente, a nível mundial, pessoas com mais de 60 anos de idade são quinhentos e noventa milhões e no ano 2010 serão um bilião.

Durante milénios, a mortalidade e a fecundidade quase se equilibraram. Esse equilíbrio foi rompido devido à queda vertiginosa mortalidade infantil, devido à erradicação de doenças infecto-contagiosas e devido ao impressionante aumento da longevidade nos países que conheceram a revolução industrial, auferindo do progresso da medicina.

Deste modo, propomos um design para o geronte, baseado em “activities of daily living” e adaptados às áreas da perda de memória, dificuldades na orientação espácio-temporal, declínio das funções cognitivas, modificações de comportamento e dificuldades de aprendizagem por diminuição da neuroplasticidade e mortalidade neuronal, défices de natureza auditiva, visual e táctil.

A revolução biotecnológica pode desencadear um futuro “pós-humano” com consequências sociais, culturais, económicas e políticas graves para a sobrevivência do ser humano.

Em contrapartida a consciência cognitiva sobre o Estado de Arte do design impulsionará a sociedade para um futuro mais humano porque facilita a interacção entre as pessoas.

O Design Gerontológico deve ser cada vez mais universal e imediato a fim de reduzir as sequelas das manipulações realizadas pela biotecnologia.

O Design Gerontológico utilizará uma metodologia explícita onde proporá e realizará ideias inovadoras, funcionais, ergonómicas e visuais para melhorar o conforto, a segurança e a satisfação dos gerontes.

O Gerontodesign tem a finalidade de moldar utensílios ergonomicamente adaptados aos idosos cuja forma/função é estética.

O arquitecto Henry Dreyfuss, em 1955, referia que quando o contacto entre o objecto, a arquitectura e o usuário ostentam um ponto de atrito, é porque o projectista cometeu um erro. Ao invés, se o usuário em contacto com o meio em que se desenvolve testemunha uma maior segurança, confiança, conforto, ou simplesmente se sente mais feliz, então o projectista terá tido êxito na sua incumbência. Assim, o Designer que abrace o Design Gerontológico trabalhará para a comunidade/sociedade porque da problemática do envelhecimento procurará solucionar os problemas somatognosicos do idoso. Assim os artefactos criados pelo designer serão objectos auxiliadores e motivadores que auxiliem o idoso nas suas dependências físicas e psíquicas quotidianas.

Gerontologia é a ciência que estuda o processo de envelhecimento do Homem, isto é, tem por objectivo o estudo de todas as modificações morfológicas, fisiológicas, psicológicas e sociais consecutivas à acção do tempo no organismo humano, independentemente de qualquer fenómeno patológico (R. Fontaine, 2000). O termo foi usado pela primeira vez em 1901, advém do grego geros: velho, cuja raiz etimológica contempla diversas denotações: sénior, idoso, ancião, senescente, geronte, terceira idade e do sufixo logia: estudo.

Design, no sentido “imago hominis”, é a ciência ou o lugar de sabedoria, arte, fascinação, imaginação e criatividade de desenhar modelos “acima e abaixo da linha” de produtos industriais, comerciais e artesanais. É uma ciência e uma arte de dar forma, deformar e transformar o mundo natural/ecológico, num mundo artificial, mais belo/estético. O design moderno tem início aquando em 1919 pessoas como Walter Gropius, fundador da Bauhaus, modelam objectos com forma/função/estética para a população em geral.

Design é uma palavra de origem inglesa com duplo significado; além de funcionar como substantivo (design) que significa desígnio, projecto, intenção, plano, propósito, meta, estrutura fundamental, conspiração malévola, conjura, malícia, etc., funciona também como verbo (to design) cujo significado afigura projectar, desenhar, designar, traçar, assinar, conformar, fingir, tramar algo.

Gerontodesign é o resultado da aglutinação de Gerontologia com design no sentido de projectar, conceber e apropriar modelos a baixo custo aos senescentes, aumentando significativamente a conquista da sua autonomia e independência, que é uma das características da cidadania.

Para Victor Papanek (2002) a função do designer é proporcionar “opções às pessoas. Estas opções deveriam ser reais e significativas, permitindo que as pessoas participassem mais plenamente nas decisões que lhes dizem respeito, e deixando-as comunicar com os designers e arquitectos na procura de soluções para os seus próprios problemas, tornando-se mesmo – quer queiram quer não – os seus próprios designers. Os idosos são precisamente um dos grupos insuficientemente servidos pela indústria e seus designers, ou nem sequer servidos. Tentar dar respostas às necessidades dos idosos manteria ocupada uma boa parte dos designers e arquitectos durante os próximos cinquenta anos. Esta população está constantemente a aumentar; a maior parte dos idosos tem ainda dinheiro suficiente para sobreviver – em muitos casos dispõem de fundos consideravelmente grandes – e são as pessoas mais indicadas para se consultar a propósito de aliviar as dificuldades da velhice”.

Assim sendo, para que o design produzido para o geronte seja um modelo projectual de sucesso, existem vários aforismos a reter da parte do designer:

1.    Os artefactos serão adaptados ao envelhecimento humano, numa função de equilíbrio entre as estruturas cognitivas e emocionais do geronte, moldadas às transformações músculo-esqueléticas e neuronais e ajustadas à mobilidade e à postura;

2.    O ser humano é um ser somático que se manifesta num todo bio-psico-social e metafísico, quer seja em movimento, quer em quietude, assim não existe distinção entre a dualidade corpo/mente. Por isso, é da incumbência do designer apreender que a exploração ou o desenvolvimento da consciência corporal é uma descoberta do corpo em si mesmo (a nível individual) que requer uma exploração em volta de emotividade que condiciona tudo aquilo que fazemos.

Ao falarmos de exploração, trabalhamos duas realidades:
  • Somatognosia: noção do corpo (realidade interior)
  • Exterognosia: noção do espaço e do tempo (realidade exterior).

Explorando a consciência corporal, mediante o equilíbrio e a coordenação, desenvolvemos as seguintes capacidades físicas básicas:

  • Capacidades perceptivo – motrizes: importantes na educação primária, onde se trabalha o espaço, o tempo, a lateralidade, e equilíbrio;
  • Capacidades físico – motrizes: flexibilidade, velocidade, resistência, força;
  • Capacidades sócio – motrizes: trabalho da tomada de consciência, relações, integrações (relação com a imaginação, criatividade, exploração, interacção com o seu meio, macro e micro ambiente de acordo com o seu grupo etário e cultural, etc.);
  • Habilidades fundamentais: conforme o desenvolvimento psicomotor da pessoa.

A Somatognosia (realidade interior) consciencializa a CONSCIÊNCIA CORPORAL, tendo como resultado o EQUILIBRIO.

Para tal, temos de ter em linha de conta três aspectos:

  • Imagem corporal (aspecto qualitativo): concepção subjectiva do conceito que temos do corpo geronte – tonicidade.
  • Imagem corporal (aspecto quantitativo): adaptação entre a estrutura e a tensão muscular – postura.
  • Consciência corporal: resultado da união dos dois pontos anteriores – gestualidade.
A Exterognosia (realidade exterior) trabalha a noção de Espaço e Tempo/Ritmo desenvolvendo assim a ideia de Lateralidade.

O resultado do desenvolvimento de Lateralidade e Ritmo dá-nos a COORDENAÇÃO.
Por conseguinte, as capacidades de trabalho projectar/modelar/designar para o geronte são:
  • Diminuir o stress;
  • Minimizar e compensar as perdas/incapacidades funcionais:
    1. Perceptivo – motrizes
    2. Físico – motrizes
    3. Sócio – motrizes (onde o jogo lúdico é muito importante)
    4. Habilidades fundamentais
  • Corporalidade;
  • Aumentar a autoconfiança (auto-estima);
  • Conquistar a autonomia e a independência.
Um princípio fundamental na aplicabilidade da ergonomia no design universal, propõe que os espaços, equipamentos, sistemas e tarefas sejam projectados de forma a atender ampla gama da população, considerando as variações de tamanho, sexo, peso, ou diferentes habilidades ou limitações que as pessoas possam ter.

Esse conceito preconiza que uma cidade deve ser acessível a qualquer pessoa desde o seu nascimento até sua velhice, ou seja, as cidades devem ser acessíveis a todos. Esses espaços devem permitir várias maneiras de serem usados ou explorados, e devem estar providos de elementos construídos, únicos e ajustáveis, ou múltiplos – complementares, de forma que o conjunto esteja adequado a algum tipo de necessidade ou característica do usuário. A funcionalidade do espaço edificado permite a compensação das limitações, pois transforma elementos materiais em natural prolongamento do corpo, como instrumentos ainda mais fortes e precisos do que os olhos, pernas e mãos. (Marcelo Pinto Guimarães).

Sabendo-se que há diferenças individuais numa população, os projectos, em geral, segundo J. Dull e B. Weerdmeester (2001), devem atender a 95% dos extremos dessa população (indivíduos muito gordos, muito altos, muito baixos, mulheres grávidas, deficientes físicos e idosos), para os quais os projectos de uso colectivo não se adaptam bem. Nesses casos, é necessário realizar projectos específicos para essas pessoas.

Nos ambientes existem escalas diferentes, as quais abrangem desde os macro aos micro-ambientes e cuja intervenção do designer é fundamental.

A distinção entre eles apresenta-se muito vaga. Muitos pesquisadores e designers consideram que o macro-ambiente está numa escala arquitectónica, envolvendo relações espaciais, forma da edificação, estética, as condições locais e a interacção desse com a comunidade, enquanto que o micro-ambiente é caracterizado por uma escala pessoal individual. O espaço imediato que rodeia o indivíduo, no seu local de trabalho, na sua casa, é a chave do design centrado no usuário. Criar um micro-ambiente para o idoso não significa apenas diminuir o stress, minimizar o efeito das perdas funcionais, ou compensar as incapacidades, mas sim criar, de uma forma que aumente a autonomia do usuário, aumentando a sua autoconfiança e, portanto, mantendo sua auto-estima. (Arthur Schwartz)

Um macro-ambiente acessível significa a eliminação de obstáculos arquitectónicos do espaço: uma rede de transportes públicos que permita ao geronte, mesmo com limitações físicas, sensoriais, psicológicas e cognitivas usufrui-la; por outro lado, deve ter um design de fácil conservação, manutenção e limpeza que dificulte as acções de vandalismo.

Um micro-ambiente acessível significa a eliminação de obstáculos arquitectónicos do lugar que rodeia o geronte mesmo com limitações físicas, sensoriais, psicológicas e cognitivas; um equilíbrio estético-funcional com soluções integradas e padronizadas, quer nas suas interacções espaciais domésticas, quer na utilização do mobiliário, iluminação e ventilação.

Na indagação de uma melhor adaptação do geronte ao seu habitat, e querendo assegurar ao geronte uma maior auto-estima, independência e dignidade, auferimos três aspectos que são fundamentais: a comodidade, a segurança e a mobilidade do geronte.

A somatognosia do geronte comporta um mapeamento cognitivo dos “seus ritmos, suas vísceras, seus músculos, que são o reverso de um sintoma de treino para um estado de consciência, o reflexo de uma exterioridade” (Juan Luis Moraza) que se debilita com o tempo e que gradativamente se degrada as suas capacidades cognitivas (visão, auditiva, motora, que dificultam a sua marcha e destreza de movimentos), enquanto designers devemos proporcionar-lhe uma qualidade de vida autónoma a mais longa possível, socialmente integrado no seu bairro e em sua casa minimizando os possíveis acidentes.

Um programa piloto realizado na Austrália entre 1993 e 1995 indica que, mediante de simples modificações em zonas de risco em espaços habitacionais de gerontes que façam uma queda por ano, consegue-se diminuir para 60% a incidência de quedas depois dessas modificações.

Tal processo de design deve ser abordado respeitando as necessidades individuais de cada geronte, tendo em conta os aspectos sanitários, económicos, sociais, funcionais e de segurança.

Em alguns casos, o desconforto e a dificuldade na mobilidade e maneabilidade do espaço residencial do geronte é notório (por serem demasiado grande ou com equipamentos desajustáveis à sua situação física). Tal circunstância faz com que os gerontes decidam vender as suas casas antigas e comprem novas, concebidas por gerontodesigners e arquitectos, já adaptadas às suas necessidades actuais.

O domicílio de um geronte deverá ter como premissas muitos aspectos, que incumbem a entrada da casa, a sala de estar / jantar, quarto de dormir, WC., e cozinha.

Por conseguinte, apresentamos de seguida, as premissas fulcrais que devem ser implantadas pelos arquitectos e gerontodesigners. 

A ENTRADA
  • Os acessos devem ser amplos e as portas devem permitir a entrada de uma cadeira de rodas ou uma cama em caso de urgência.
  • Se a entrada tiver escadas, a solução será reduzir a altura entre degraus para facilitar a sua subida e agregar um corrimão em ambos os lados para dar impulso e ajudar a subir, e conservar o equilíbrio ao descer. Outra recomendação é utilizar uma rampa desmontável ou fixa para subir com cadeira de rodas. (A inclinação recomendada é de 5 graus com um comprimento máximo de 3,5 metros) com a colocação de corrimões de segurança para evitar quedas.
  • Se a casa tiver corredores largos, é importante que tenham corrimões de ambos os lados.
  • A casa deverá ter vídeo porteiro, não só por comodidade pois evitará deslocações desnecessárias, como também por segurança.
  • As pegas da porta deverão ser tipo manivela e de cor contrastante com a das portas para facilitar a sua visão.
  • Todos os ambientes devem estar correctamente iluminados.
  • Os pisos deverão ser, se possíveis, lisos, nivelados e mantidos em bom estado. Não devem ser escorregadios: as superfícies mais seguras são as que não são polidas, vinil e madeira sem polir.
  • As alcatifas grossas dificultam muito a deslocação de uma cadeira de rodas e são cansativas ao andar. As alcatifas soltam são perigosas. Se o geronte quiser utilizar um tapete na porta, é necessário que este fique preso ao solo.
  • Evitar encerar o chão e escadas e não utilizar vernizes no chão.
  • É importante libertar os espaços em que se circula e acondicionar os apoios necessários com móveis estáveis e fixos, rampas ou corrimões.
  • Uma boa iluminação e uma instalação eléctrica bem distribuída são mais agradáveis e eficientes.
  • Os interruptores devem ser instalados para que todo o espaço escuro se ilumine antes do geronte entrar no mesmo. Para as pessoas com cadeira de rodas é aconselhável que estejam à altura das suas mãos. As tomadas eléctricas devem instalar-se à altura mais conveniente.
  • Os cabos eléctricos são muito perigosos: é importante não deixa-los soltos. Deve-se realizar um controlo adequado das tomadas de corrente, as protectoras das mesmas, chaves térmicas e disjuntores. É muito importante ter instalado um disjuntor para evitar acidentes que são pouco frequentes, mas contudo, mortais.
  • Não utilizar aquecedores a gás sem que se tenha aprovado a sua eficiência. É importante colocar detector de fumo e fugas de gás em casa.
  • Deve-se ter sempre um extintor em boas condições e com validade.

SALA DE ESTAR/JANTAR

É o local onde o geronte passa mais tempo e por conseguinte deve encontrar-se personalizado com objectos de seu agrado como fotos, quadros, livros, música, objectos pessoais, etc.
  • É importante ter um rádio e/ou televisão para que possa acompanhar os programas de que gosta. Mas é de maior importância dispor de um cadeirão cómodo, que não lhe cause dores. Contudo não é aconselhável que esteja todo o dia sentado a ver televisão. Há que ter em conta, que a televisão pretendida, como ruído de fundo, pode ser altamente prejudicial para a atenção, para a capacidade de comunicação e para a memória.
  • Se for necessário, deverá possuir auriculares pessoais, aconselhados em caso de diminuição auditiva e um controlo remoto ao alcance da mão.
  • O telefone deverá ter dígitos grandes, se possível coloridos, e memória para gravar os números mais usados pelo geronte.
  • É importante que o geronte tenha uma agenda ao lado do telefone com os números dos bombeiros, emergências médicas, polícia e familiares mais próximos para pedir ajuda em algum problema.
  • Para diferenciar objectos, espaços e elementos é conveniente usar cores contrastantes e quentes (vermelho, amarelo, laranja) que são de maior visualização em oposição do azul e verde.

CADEIRAS
  • Na medida do possível deverão ser leves, seguras e estáveis. Não deverão conter rebordos aguçados, salientes nem parafusos, pois poderão prender-se à roupa.
  • Se o geronte tiver alguma dificuldade em amparar-se ou sentar-se, a cadeira deverá conter apoia braços. As cadeiras de mesa não oferecem necessidade de ter braços de apoio, visto que o geronte poderá apoiar-se na mesa para se sentar ou levantar.
  • É importante que estejam bem acolchoadas para que sejam brandas, mas não convém que sejam demasiado moles pois dificultará o acto de sentar e levantar. É aconselhável que sejam forradas com um material poroso (que não favoreça a transpiração) e que seja lavável.

    MESAS
  • De igual recomendação para todos os móveis, não deverão ter pontas aguçadas: para colmatar o problema poder-se-á colocar nas esquinas cantos de borracha ou auto-adesivos.
  • A altura ideal desde o chão ao topo da mesa oscila entre os 70 e os 80cm, e a altura livre por debaixo da mesa deverá ter em conta a entrada de uma cadeira de rodas. (A altura não deve ser inferior a 70cm). Se as mesas forem mais baixas do que o conveniente, dever-se-á adorná-la com suplementos nos pés para a elevar. (Para isso poder-se-á utilizar tacos de madeira).
  • Os pés da mesa deverão ser rectos e não deverão sobressair do tampo da mesa porque poderá causar topeçamentos. É aconselhável que as mesas disponham de quatros pés e um central, para que o geronte possa amparar-se caso haja perda de equilíbrio. Existem mesas rebatidas que podem servir como superfície de trabalho, suporte para livros ou mesa de apoio.

        CADEIRÃO / SOFÁ
       O Cadeirão deve reunir algumas características básicas:
  • Ser pouco profundo
  • De altura suficiente para que os pés se apoiem no chão
  • Com assentos e costas firmes
  • Com apoia braços largos
  • Com pés reguláveis em altura

DISPOSITIVOS DE MOBILIDADE, LEITURA E ESCRITA

        CADEIRA DE RODAS
  • Apesar da independência que uma cadeira de rodas possa usufruir, existem situações em que se necessita de ajuda. É importante que alguém junto do geronte conheça a estrutura e os mecanismos da cadeira de rodas como também as ocasiões em que os gerontes querem e devem ser ajudados.
  • É necessário saber manter a roupa e mantas fora do alcance das rodas.
  • Os braços desmontáveis de uma cadeira de rodas são úteis caso se queira realizar uma tarefa numa mesa de escritório e cuja altura seja inferior à da cadeira. Normalmente os braços podem baixar-se cerca de 15cm para colocar a cadeira debaixo da mesa. Os braços comuns poderão ser substituídos por braços reguláveis que poderão subir-se e baixar-se sempre que haja necessidade.
  • Quando não se consegue colocar a cadeira debaixo da mesa poder-se-á utilizar um tampo adequado para o efeito.
  • Uma pessoa com deficiência motora e sem cadeira de rodas necessita de 140x140cm para fazer uma rotação completa (oito vezes mais que uma pessoa que pode caminhar sem dificuldade).

       AJUDAS PARA LEITURA
  • Quando não se pode soletrar um livro, quando as mãos e braços se cansam ou a visão é fraca, um suporte de apoio a livro é de extrema utilidade.
  • Deve ser firme e adaptável o suficiente para colocar um livro na posição mais conveniente.
  • Alguns suportes tornam-se instáveis quando o livro é pesado. Para esses casos o suporte deverá ser maior.
  • Os suportes de pé similares aos que usam os músicos, são muito práticos aquando se lê sentado numa cadeira. Um modelo regulável e com ângulo adaptável é recomendado porque poder-se-á utilizar em qualquer cadeirão ou cadeira.
  • A lupa pode ajudar a ler letras pequenas mas não se deve abusar dela sem consultar primeiro um médico especialista.
  • Para ler ou fazer trabalhos, é importante ter uma boa iluminação. A luz deverá ter a intensidade adequada e deverá estar situada de modo a que haja iluminação suficiente. Para tais situações, existem lâmpadas que se ajustam facilmente a qualquer lugar cujos interruptores estão ao alcance das mãos.

        AJUDAS PARA ESCREVER
  • É conveniente que o geronte escreva numa mesa adequada, para que esteja sentado comodamente e possa ajustar a cadeira à mesa para apoiar o antebraço. Há que ter em conta que é mais fácil escrever num caderno grande do que em folhas soltas.
  • Os marcadores de fibra exigem menos pressão que as esferográficas. Tanto os lápis como as lapiseiras deverão ser maiores comparando com as de tamanho convencional para que possam ser mais fáceis de agarrar. A grafite deverá ser de dureza média (HB).
        AJUDAS PARA CAMINHAR
  • Se o geronte usa uma bengala, os seus sapatos deverão ter uma sola de borracha para poder aderir melhor ao solo.     
  • A bengala deverá estar em contacto com a superfície o mais possível e deverá estar sempre limpa para que o excesso de sujidade não a torne escorregadia.
  • Uma correia de couro ou um elástico que una a mão ou manga à bengala, permitirá que o geronte se agarre livremente a barras de apoio sem ter medo de deixar cair a bengala.
  • É aconselhável fixar um suporte à mesa para suportar a bengala quando esta não se utiliza.
QUARTO DE DORMIR
 Para muitos gerontes o quarto de dormir é o local da casa de maior intimidade e é o onde se dirigem quando querem estar sós. Nesse local, é importante poder controlar a luz, o aquecimento e a ventilação. É conveniente ter um telefone junto à cama e, se necessário, um intercomunicador. Também se sugere uma extensão do vídeo porteiro.

          CAMA
  • Deve ser cómoda, de fácil entrada e saída e fácil de se fazer. É importante estar situada num local onde o geronte tenha acesso a tudo o que necessita sem ter de se levantar. Deve estar afastada da parede para que se possa acedê-la por qualquer dos lados.
  • É conveniente que o colchão seja duro ou que seja reforçado com uma tábua por baixo. A estrutura da cama deverá permitir a respiração do colchão.
  • Talvez seja necessário colocar barras de tracção ou pegas de corda para que o geronte se possa mover ou levantar-se com facilidade.
  • A largura recomendada para a cama é de 2 metros, com um colchão de 1,90m. A distância recomendada entre a cama e o solo para permitir uma melhor limpeza é de 30cm.
        MESA-DE-CABECEIRA
  • É conveniente que as gavetas da mesa-de-cabeceira sejam leves e com um espaço interior de cómodo acesso.
  • É importante que seja mais alta do que o colchão cerca de 10cm.
  • É importante que seja sólida e firme para que o geronte se possa apoiar nela quando se deita ou levanta da cama.
  • O geronte deve ter uma lâmpada de boa iluminação junto à cama para que, caso haja necessidade de se levantar durante a noite, esta lhe possa iluminar o caminho.
         W.C.
  • É importante que o WC. seja cómodo, seguro e que não seja um impedimento para a sua higiene diária. Estar sempre limpo é importante pois aumentará a auto-estima ao geronte.
  • Um chuveiro é um elemento que facilita o acto de tomar banho, especialmente sentado.
  • É necessário a colocação de um aparador onde se possa colocar os objectos de higiene.
  • As paredes à volta do duche deverão contemplar pegas de apoio e é indispensável colocar um tapete anti-deslizante para evitar quedas.
  • Um WC. sem banheira é mais cómodo já que se elimina a necessidade de ter de passar sobre a borda da banheira para entrar e sair da mesma.
  • No caso de ter de se utilizar uma banheira, é necessário ter um degrau em forma de “L” e anti-deslizantes fornecidos com ventosas.
  • É conveniente que a porta do WC. se abra facilmente por prevenção numa emergência. As portas que se abrem para fora do WC. são mais práticas porque permite ao geronte uma melhor movimentação nesse espaço.
  • O WC. ideal para uma pessoa de cadeira de rodas deverá ter uma porta no mínimo com 80cm de diâmetro. O espaço cómodo para mover-se com a cadeira deve ser de 150x150cm.
  • A sanita deverá estar a uma altura conveniente (varia de geronte para geronte) e deverá estar equipada com pegas de apoio que permitam o equilíbrio do geronte para mover-se de um lugar para outro com facilidade. De igual modo deverão ser colocada barras/pegas de apoio no bidé.
COZINHA
Para que os gerontes possam cozinhar em menos tempo com comodidade, segurança, higiene e com menor esforço somático, é necessário que haja uma ordenação ergonómica do espaço no que respeita à disposição dos armários, equipamentos e acessórios.
  • Para tal é necessário que os acessórios e pequenos equipamentos sejam guardados num local de fácil acesso, sem que haja esforço da parte do geronte em se baixar ou debruçar sobre algo para alcançá-lo.
  • Devem-se optar por estantes baixas e com pouca profundidade para colocar utensílios pequenos e de uso frequente.
  • As portas dos armários deverão ser de abertura paralela ao armário, ou seja, para a frente, acompanhando consigo as prateleiras que contêm os alimentos e acessórios. Desta forma, o seu acesso será mais rápido e cómodo.
  • Uma mesa com rodas será útil para transportar a comida para outro local que seja necessário.
  • É preferível optar por utilizar equipamentos que possuam várias funções na mesma peça, como picar, cortar, triturar, etc. porque será mais fácil a sua manutenção, limpeza e serão menos peças que o geronte terá de manusear.
  • A utilização de facas afiadas faz com que não haja tanta necessidade de fazer pressão sobre os objectos a cortar, e desta forma, evitar-se-ão acidentes.
  • A tábua de corte deverá ter ventosas na superfície que está em contacto com a mesa. Ficará sempre estanque e libertará o geronte para o trabalho com uma só mão.
  • As asas dos tachos e panelas deverão ser feitas num material que não induza o calor, sejam aderentes à mão e de orlas grandes para se poderem agarrar bem.
  • O chão não deve ser escorregadio: as superfícies mais seguras são as que não são polidas. Deverá ser de fácil limpeza e secagem rápida.
  • É preferível utilizar um isqueiro longo de cozinha para acender os lumes. Desta forma evitar-se-ão acidentes.
  • Uma boa iluminação é de extrema importância para que não hajam acidentes causados por deficiente visão.
  • Tudo o que utilize na cozinha deverá ser de fácil limpeza.
CONCLUSÃO
A dependência causa frustração e a impotência na qualidade de vida do geronte causa sentimento de exclusão da sociedade. Gradualmente o geronte sentir-se-á deprimido, fechar-se-á e alienar-se-á de tudo o que o rodeia, gerando doenças, acabando por morrer mais rápido, só e infeliz.
Para se evitar tal conjuntura dever-se-á construir um ambiente / habitação correctamente adaptado para esta etapa de vida com necessidades especiais e específicas, que permite ao geronte auto-valer-se e auto-ajudar-se, ampliando a sua auto estima, auto confiança, auto imagem, independência e dignidade.
Para que hajam melhorias na habitação do geronte, há que apontar três aspectos fundamentais: comodidade, segurança e mobilidade.
Alcança-se tal feito com um mobiliário, acessórios e equipamentos cuidadosamente adaptados, seleccionados e bem distribuídos.
Desta forma obter-se-á um design funcional, confortável, cómodo, belo, de fácil conservação, manutenção e limpeza acessível a todos os usuários.

Quando todos os ambientes onde coabita o geronte forem desenhados ergonomicamente (forma/funcionalidade/estética) a pensar nas suas procuras cognitivas e emocionais, o design versus gerontodesign atingirá a sua destreza primordial.

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UNISANTAGraduação em “Gerontologia e desenvolvimento social” in: http://www.unisanta.br/faculdades/gerontologia/index.asp


Autores:
Ana Isabel Pereira de Sousa
Professora na Escola Superior de Educação João de Deus. Licenciada em Design de Comunicação Visual, DEA em Escultura na especialidade de Gerontodesign de Calçado, Doutoranda em Gerontologia na especialidade de Gerontodesign na Universidade de Santiago de Compostela.

Joaquim Parra Marujo
Professor na Escola Superior de Educação João de Deus. Doutor em Antropologia Social e Cultural, DEA em Sistemas de Identidade e Identificações do Mundo Contemporâneo, Mestre em Espaço Lusófono: Economia, Sociologia e Política, Mestre em Clínica em Saúde Mental.